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Conquistar uma vida que valha a pena ser vivida

  • Foto do escritor: WilFran Canaris
    WilFran Canaris
  • 23 de set.
  • 2 min de leitura
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Sob o termo “suicídio” estão incluídas experiências muito diversas. Quando o tomamos de forma genérica, desconsideramos suas especificidades. E o que há de mais característico no suicídio é sua radical singularidade. Nunca há dois suicídios idênticos. Compreender isso é decisivo para lidarmos com esse desfecho tão dramático, mas cada vez mais frequente na categoria bancária.


Reconhecendo essa singularidade, a pergunta que a categoria deve se fazer não é o que “causa” os suicídios em geral, mas quais características específicas do trabalho bancário motivam esse desfecho. O primeiro passo nessa busca é: não teorizarmos no escuro.


Os dados de Saúde da classe trabalhadora, especialmente sobre suicídio, sofrem com a subnotificação. Muitos bancários trabalham por muito tempo doentes, em sofrimento, com ideação suicida. Mas esses dados não chegam aos sindicatos. E essa ausência nunca beneficia às vítimas.


Precisamos de dados expressivos, atualizados e disponíveis para identificar a situação da categoria em níveis local, estadual, regional e nacional. Para isso, é preciso superar o estigma, parar de sofrer em silêncio. Ao não calar suas mazelas, a categoria revela que quem está doente é o banco.


Com base em minha experiência clínica com bancários que pensaram ou tentaram suicídio, tenho convicção de que, ao explicitar a singularidade desse sofrimento, encontraremos um fator comum: a violação sistemática da dignidade humana.


A prevenção ao suicídio é essencial, mas reduzi-la à diminuição de atestados de óbito é um erro. O suicídio não é ponto final dessa discussão. Há uma questão mais profunda: a vida que vale a pena ser vivida pelos trabalhadores do sistema financeiro.


Embora haja divergências sobre o que é uma vida que vale a pena, um ponto é inegável: ela precisa ser digna. E isso não se conquista apenas reduzindo as taxas de suicídio, mas promovendo a vida da categoria em todos os seus aspectos — e reprimindo qualquer violação à sua dignidade.


O primeiro passo para a cura é reconhecer a doença. A doença que leva a categoria ao suicídio é um trabalho organizado de forma hostil e violadora da dignidade humana. Promover a vida é não aceitar o inaceitável. Sempre denuncie ao seu sindicato.


Toda dor importa.


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Texto de André Guerra é Doutor, Mestre em Psicologia Social e Psicólogo Clínico Especialista na

abordagem Fenomenológico-Existencial

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