Relatos de pressão para cumprimento de metas e afastamentos por adoecimento mental, tem sido a rotina dos bancários e bancárias do país.
“O banco te paga 100% do salário, então você tem que dedicar no mínimo 100% de você neste trabalho”, essa é a frase que o bancário Augusto* ouvia dentro da agência bancária em que trabalha. Com uma cobrança acirrada e por vezes, vexatória, o trabalhador do ramo financeiro com quase 20 anos de banco, acabou adoecendo e desenvolvendo a Síndrome de Burnout.
Com um ambiente de alta competitividade, que leva o trabalhador a exaustão extrema, a história de adoecimento do Augusto*, infelizmente é a realidade de milhares de bancários e bancárias. Somente em 2020, de acordo com dados do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, mais de 20 mil bancários foram afastados. Um aumento de 26,2% no número de afastamentos nos últimos cinco anos, colocando os bancos como as empresas com maior risco de acidente de trabalho ou doença ocupacional.
Entre estes afastamentos, se considerarmos apenas os afastamentos acidentários, os transtornos mentais e comportamentais (estresse, depressão, síndrome do pânico etc), são responsáveis por 55% dos afastamentos em 2021, sendo que em 2012 este volume era de 30%.
Mesmo com o avanço da tecnologia, que poderia trazer melhores condições de trabalho aos bancários, o índice de adoecimento dos trabalhadores do ramo financeiro, principalmente ligado à questão mental, tem aumentado ano após ano. De acordo com Rafael Frasson, psicólogo especialista em clínica e psicologia do trabalho, a tecnologia veio para ajudar o trabalhador, o problema é como as organizações se preparam para as transformações que estão acontecendo.
Especial Pressionados por metas, bancários e bancárias adoecem “O que se percebe é que as instituições bancárias pararam no tempo e não se atualizaram na forma de como gerir a tecnologia e as pessoas. A tecnologia nos bancos, avançou a passos bem mais largos do que o cuidado com as pessoas”, destaca Rafael que também é mestrando da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC e pesquisa sobre a saúde mental do trabalhador bancário.
Na Campanha Salarial dos bancários, realizado em 2022, uma consulta com a categoria diagnosticou o adoecimento dos trabalhadores, 77% dos bancários relataram cansaço, fadiga, preocupação em função das metas abusivas, 44% declararam ter crise de ansiedade e pânico e 35,5% afirmaram que tomaram medicação controlada no último ano.
De acordo com a Secretária de Saúde e Condições do Trabalho do Sintrafi Floripa, Jozi Fabiani Mello este levantamento é importante para que os bancos tenham conhecimento do adoecimento da categoria. “Os banqueiros precisam perceber a importância de discutir saúde. Os números de afastamentos por problemas com a saúde mental estão aumentando e precisamos pensar ações de um ambiente saudável de trabalho”, destaca Jozi.
Para o psicólogo Rafael, as instituições bancárias não perceberam que as metas inalcançáveis implicam em menor produção e numa grande fadiga mental desses trabalhadores. “Cada vez mais os bancários estão adoecendo por problemas de saúde mental, na qual está totalmente atrelado as suas funções dentro das instituições. Modelos modernos de gestão de pessoas vem mostrando que quanto mais se cuida da saúde mental e física do trabalhador, mais se ganha em produção. Porém os bancos parecem não quererem entender isso”, salienta Rafael.
O Secretário de Saúde do Trabalhador da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro de Santa Catarina - Fetrafi/SC, Orlando Flávio, informa que as entidades de representação dos bancários organizaram diversas atividades para este mês de abril para refletir sobre a saúde dos trabalhadores. “É importante a união de todos os sindicatos em torno da mesma pauta, para chamarmos atenção da sociedade para o adoecimento dos bancários em virtude da cobrança abusiva de metas”, destaca Flávio.
O psicólogo Rafael Frasson, que é mestrando da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), está fazendo um estudo sobre o tema Saúde Mental dos Bancários e, por isso, convida os profissionais a participarem da pesquisa on-line, com o objetivo de conhecer um pouco sobre a saúde dos bancários e bancárias: https://bit.ly/pesquisabancarios
*Augusto é nome fictício para preservar a identidade do trabalhador Acesse o YouTube do Sintrafi Floripa e confira a entrevista especial com Rafael
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