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"60 anos, Uma História - Entrevista com Jacques Mick

No mês em que o Sintrafi completa seus 89 anos, a Folha Sindical entrevistou o professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política e atual pró-reitor de Pesquisa e Inovação da UFSC, Jacques Mick. Jacques já foi jornalista do sindicato e escreveu o livro que homenageou os 60 anos da entidade. Confira:


Folha Sindical (FS) - Em que período você trabalhou no Sintrafi e acompanhou a luta da categoria bancária?

Jacques Mick (JM) - Entre 1990 e 1994, fui jornalista do sindicato. De 1995 a 2009, acompanhei as lutas sindicais como assessor político ou de comunicação, por meio da empresa da qual fui sócio, a Quorum Comunicação. Desde então, sigo acompanhando a ação sindical como professor e pesquisador do campo da Sociologia do Trabalho.


FS - Pode explicar sobre o livro em homenagem aos 60 anos que você

escreveu?

JM - A ideia de um livro-reportagem para comemorar os 60 anos e resgatar a memória da categoria foi da diretoria do SEEB Floripa, como a entidade se

chamava naquela época. O objetivo era resgatar a longa história de desafios na organização dos trabalhadores, num contexto de muitas mudanças no setor bancário e financeiro. O livro também foi importante para enfatizar a mudança de rumos representada pelo Movimento de Oposição Bancária, que representou uma importante inflexão nas lutas da categoria. A apuração foi uma

experiência muito marcante, porque tive oportunidade de ouvir diferentes

gerações de trabalhadores e distintas concepções de organização sindical.


FS – O que você destacaria na história de luta do sindicato?

JM - O ponto que me parece mais importante é a capacidade do sindicato de se adaptar às inúmeras mudanças que as transformações do trabalho bancário impuseram. O Brasil já teve mais de 800 mil trabalhadores no setor, todos

concentrados em agências ou escritórios, atendendo pessoas presencialmente.

Décadas depois, o trabalho é mais intenso e fragmentado, é mais difícil encontrar os bancários e organizá-los, porque os processos de gestão procuram

capturá-los para um ambiente competitivo, uma mentalidade

individualista. A invenção de novas formas de luta exige criatividade e

dedicação dos dirigentes e da categoria.


Gostaria de destacar dois momentos nesse longo fluxo. Um deles, em Santa Catarina, foram as lutas contra as privatizações e, em especial, contra a privatização do BESC. Foram anos de enfrentamento à ideia de vender o banco do estado até que, com as vitórias de Lula e Luiz Henrique da Silveira em 2002, criaram-se condições para a federalização do BESC e sua posterior incorporação ao Banco do Brasil (num processo complexo de entrelaçamento de culturas

organizacionais muito diferentes). O saldo daquelas lutas foi tão importante que, hoje, um quarto de século depois, Santa Catarina é um dos poucos estados

brasileiros que ainda tem uma companhia de energia pública, a Celesc, a despeito do caráter neoliberal dos governadores.


FS - O que você considera que mais mudou nesses quase 90 anos de

sindicato em relação às ações sindicais?

JM - Duas coisas mudaram muito: o modo como o trabalho bancário é feito e o modo como os sindicatos precisam se comunicar com a classe trabalhadora. As formas de luta permanecem mais ou menos as mesmas, mas o desafio de organizar a categoria é maior em face de um trabalho em horário elástico,

exaustivo, que se dá na agência ou em qualquer outro lugar, pouco colaborativo entre os trabalhadores, etc. Há mais dificuldades hoje do que décadas atrás para promover a coesão e os vínculos sociais necessários à tomada de decisão e à luta.

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